O primeiro tomo de História do Brasil nos velhos mapas abrange o período colonial, com foco na evolução da cartografia portuguesa. Jaime Cortesão entregou o manuscrito ao Instituto Rio Branco em 1957, antes de seu regresso definitivo a Portugal, tendo Isa Adonias, chefe da Mapoteca do Itamaraty, reorganizando mapas e desenhos. O trabalho só foi impresso em 1965.
Na obra, o autor argumenta que o mar, dando ao português sua personalidade e independência física, criou uma sociedade singular no Brasil, território “em forma de imenso promontório” avançando ao encontro da Europa. Cortesão defende, na apreciação do chamado mito da Ilha Brasil, que entre os Estados contemporâneos nenhum teve a sua história política tão intimamente ligada à geografia e à cartografia como o Brasil.
Os capítulos apresentam os mapas como fonte de compreensão das formações vegetais, da transformação tecnológica, da cultura indígena e das explorações territoriais e marítimas. Nesse tema, o autor defende que as escolas cartográficas portuguesas influenciaram diretamente a confecção de projeções, globos e mapas da escola flamenga, disseminando o conhecimento luso sobre o mundo atlântico. A obra, decorrente do vínculo de Cortesão com o Itamaraty, homenageia os laços humanos e geográficos do mundo luso-brasileiro.
+O segundo tomo de História do Brasil nos velhos mapas foi publicado em 1971, após a morte de Jaime Cortesão, contando com notas explicativas adicionais de Isa Adonias.
Em sua narrativa, Cortesão argumenta que a política de sigilo fez com que os mapas da era colonial não refletissem de forma fiel o conhecimento geográfico de cada época. É sob essa nota de cautela que ele trata quatro temas distintos, todos vinculados à história da cartografia. O primeiro apresenta o papel dos mapas na ocupação holandesa do Brasil (a cartografia do açúcar), comparando os trabalhos de portugueses (como João Teixeira) e holandeses (como Marcgraf).
O segundo e o terceiro temas apresentam os diferentes atlas do Brasil e o que Cortesão denomina de cartografia bandeirante, avaliada como causa e não efeito das bandeiras e grandemente admirada pelas suas representações sobre folhas de papel de grosseiro fabrico. Inaugurava-se, assim, uma arte cartográfica nativa. Adicionalmente, aponta que foi nas margens do Prata que se formou a escola cartográfica portuguesa da segunda metade do século XVIII.
Por fim, há o tratamento da cartografia como instrumento diplomático, do Tratado de Madri (1750) até o de Petrópolis (1903). Cortesão demonstra como as ações de Alexandre de Gusmão, Ponte Ribeiro e Rio Branco demandaram grande esforço cartográfico na concepção de uma identidade geográfica em querelas com vizinhos e potências europeias. A política externa brasileira beneficia-se até hoje desse legado.
+A obra História do Brasil nos velhos mapas, de autoria de Jaime Cortesão, teve sua primeira edição publicada em 1965 e a segunda, em 1971. A Fundação Alexandre de Gusmão, por ocasião das comemorações do Bicentenário da Independência, relança a obra em formato fac-similar. Na edição original, o primeiro volume foi acompanhado por um atlas em folhas soltas. Optou-se por modificar esse modelo, reunindo os mapas originais em um terceiro volume. Aproveitou-se a oportunidade para agregar: 1) prefácio redigido pelo embaixador Affonso Santos; 2) mapas adicionais não constantes nos dois primeiros volumes, mas citados no texto, entre os quais alguns confeccionados em 1944 por Jaime Cortesão ou feitos sob sua supervisão; 3) textos de tratados citados na obra; 4) glossário onomástico pormenorizado, elaborado pelo embaixador Affonso Santos, com informações sobre navegantes, cartógrafos, geógrafos e personalidades referidos pelo eminente geógrafo português em seu texto. Ainda que tenha dezenas de páginas, é importante ressaltar que não cobre plenamente todas as referências, pois muitos dos navegantes e alguns dos cartógrafos eram pouco conhecidos, mesmo em vida, com poucas informações chegando aos dias de hoje.
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