Mudanças entre as edições de "Colocação pronominal"

De Manual de Redação - FUNAG
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Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.  
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(Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. ''Nova Gramática do Português Contemporâneo''. 3ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001; ALMEIDA, Nílson Teixeira de. ''Gramática Completa para Concursos e Vestibulares''. 2ª edição, São Paulo: Saraiva, 2009; https://www.normaculta.com.br/locucao-adverbial/)
 
   
 
   
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===Tipos de colocação pronominal===
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Em relação ao verbo, o pronome átono pode estar:
 
Em relação ao verbo, o pronome átono pode estar:
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a) ENCLÍTICO (isto é, depois dele; essa é a regra em língua portuguesa):
 
a) ENCLÍTICO (isto é, depois dele; essa é a regra em língua portuguesa):
“Calei-me”.
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“Calei-me”
 
   
 
   
Sendo o pronome átono objeto direto ou indireto do verbo, a sua posição lógica, normal, é a ênclise
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Sendo o pronome átono objeto direto ou indireto do verbo, a sua '''posição lógica, normal, é a ênclise'''.
 
   
 
   
b ) PROCLÍTICO,
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b) PROCLÍTICO (isto é, antes dele):
isto é, antes dele:
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“Eu me calei"
“Eu me calei.
 
 
   
 
   
c) MESOCLÍTICO,
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c) MESOCLÍTICO (ou seja, no meio dele, colocação que só é possível com formas do futuro do presente ou do futuro do pretérito):
ou seja, no meio dele, colocação que só é possível com formas do futuro do
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“Calar-me-ei”
presente ou do futuro do pretérito:
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“Calar-me-ia”  
“Calar-me-ei”.
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“Calar-me-ia”.  
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===Fatores que flexibilizam a regra de ênclise===
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====Com um só verbo====
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1. Quando o verbo está no FUTURO DO PRESENTE ou no FUTURO DO PRETÉRITO: somente PRÓCLISE ou MESÓCLISE do pronome.
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[Nestes dois casos, o pronome pessoal reto obriga a próclise]
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: Eu me calarei.
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: Eu me calaria.
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: Calar-me-ei.
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: Calar-me-ia.
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2. Fator que obriga a PRÓCLISE, a saber:
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a) Orações que contêm palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc.) sem pausa entre a referida palavra e o verbo:
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: Não lhes dizia eu?
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: Nunca o vi tão sereno e obstinado.
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b) Orações iniciadas com pronomes ou advérbios interrogativos:
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: Quem me busca a esta hora tardia?
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: Por que te assustas de cada vez?
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c) Orações exclamativas ou que exprimem desejo:
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: Que o vento te leve os meus recados de saudade.
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: Que Deus o abençoe!
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d) Orações subordinadas desenvolvidas, ainda que a conjunção esteja oculta:
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: Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço.
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: Que é que desejas te mande do Rio?
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e) Gerúndio regido da preposição “em”:
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: Em lhe cheirando a homem chulo é com ele.
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3. Não há ênclise ou próclise com PARTICÍPIOS. Quando o PARTICÍPIO vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição. 
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: Dada a mim a explicação, saiu.
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4. Com os infinitivos, PRÓCLISE e ÊNCLISE são válidas, embora haja tendência para esta colocação pronominal.
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: Canta-me cantigas para me embalar!
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: Para não fitá-lo, deixei cair os olhos.
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A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a”
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: Se soubesse, não continuaria a lê-lo.
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: Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la.
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5. A PRÓCLISE pronominal pode ser também utilizada nos seguintes casos:
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a) Advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez) ou expressões ou locuções adverbiais sem pausa que os separe.
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: Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma.
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: Só depois se senta no chão a chorar.
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b) Orações em ordem inversa iniciada por objeto direto ou predicativo.
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: Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu.
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Fatores que flexibilizam a regra de ênclise:
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c) Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.)
  
Com um só verbo
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: Alguém lhe bate nas costas.
1. Quando o verbo está no FUTURO DO PRESENTE ou no FUTURO DO PRETÉRITO: somente PRÓCLISE ou MESÓCLISE do pronome
 
  
Eu me calarei.
 
Eu me calaria [Neste dois casos, o pronome pessoal reto obriga a próclise].
 
  
Calar-me-ei.
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d) Orações alternativas (ou / ora)
Calar-me-ia.
 
  
2.  Fator que obriga a PRÓCLISE, a saber:  
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: Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu.
Orações que contêm palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc.) sem pausa entre a referida palavra e o verbo:
 
  
— Não lhes dizia eu?
 
(M. de Sá-Carneiro, CF, 348.)
 
Nunca o vi tão sereno e obstinado.
 
(C. dos Anjos, M, 316.)
 
  
Orações iniciadas com pronomes ou advérbios interrogativos:
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ADVÉRBIOS E LOCUÇÕES ADVERBIAIS:
  
Quem me busca a esta hora tardia?
+
Com relação aos advérbios e locuções adverbiais (item 5, alínea "a", acima), cumpre ressaltar que só se requer a próclise quendo não há pausa (vírgula, por exemplo) que os separe do verbo pronominal. Em geral, utiliza-se uma pausa após o advérbio ou a locução adverbial, caso em que se requer a ênclise. Por exemplo: : "Desde cedo, notabilizou-se por sua grande inteligência", mas “Desde cedo se notabilizou por sua grande inteligência”.
(M. Bandeira, PP, I, 406.)
 
  
— Por que te assustas de cada vez?
+
Segundo distintas gramáticas, os advérbios e locuções adverbiais podem ser classificados como de afirmação, de dúvida, de intensidade, de lugar, de modo, de negação e de tempo. Seguem alguns exemplos:
(J. Régio, JA, 98.)
 
  
Orações exclamativas ou que exprimem desejo:
 
Que o vento te leve os meus recados de saudade.
 
(F. Namora, RT, 89.)
 
  
— Que Deus o abençoe!
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Advérbios e locuções adverbiais de afirmação:
(B. Santareno, TPM, 18.)
 
  
Orações subordinadas desenvolvidas, ainda que a conjunção esteja oculta:
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: com certeza; com efeito; certamente; de fato; efetivamente; na verdade; por certo; realmente; sem dúvida, sim; etc.
  
Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço.
 
(C. Drummond de Andrade, BV, 20.)
 
  
— Que é que desejas te mande do Rio?
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Advérbios e locuções adverbiais de dúvida:
(A. Peixoto, RC, 174.)
 
  
Gerúndio regido da preposição “em”:
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: acaso; com certeza; porventura; possivelmente; provavelmente; quem sabe; quiçá; talvez, etc.
  
— Em lhe cheirando a homem chulo é com ele.
 
(Machado de Assis, OC, I, 755.)
 
  
3.  Não há ênclise ou próclise com PARTICÍPIOS. Quando o PARTICÍPIO vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição. 
+
Advérbios e locuções adverbiais de intensidade:
  
Ex: Dada a mim a explicação, saiu.
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: apenas; assaz; bastante; bem; demais; demasiadamente; de muito; de pouco; de todo; em demasia; em excesso; mais; meio; menos; muito; pouco; quanto; quase; só; somente; tão; tão somente; todo; etc.
4. Com os infinitivos, PRÓCLISE e ÊNCLISE são válidas, embora haja tendência para esta colocação pronominal.
 
Canta-me cantigas para me embalar!
 
(Guerra Junqueiro, S, 118.)
 
Para não fitá-lo, deixei cair os olhos.
 
(Machado de Assis, OC, I, 807.)
 
  
A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a”
 
  
Se soubesse, não continuaria a lê-lo.
+
Advérbios e locuções adverbiais de lugar:
(R. Barbosa, EDS, 743.)
 
Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la .
 
(B. Santareno, TPM, 120.)
 
  
5. Celso Cunha ainda identifica uma tendência à PRÓCLISE pronominal nos seguintes casos:
+
: abaixo; acima; acolá; adiante; à direita; à esquerda; à frente; aí; além; ali; ao lado; aqui; aquém; atrás; através; de fora; de longe; dentro; de perto; em cima; em volta; fora; longe; para onde; perto; por ali; por aqui; por dentro; por fora; por perto; etc.  
  
Advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez) ou expressões adverbiais sem pausa que os separe.
 
  
Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma.
+
Advérbios e locuções adverbiais de modo:
(Machado de Assis, OC, I, 858.)
 
Só depois se senta no chão a chorar.
 
(Alves Redol, MB, 255.)
 
  
orações em ordem inversa iniciada por objeto direto ou predicativo
+
: ao acaso; ao contrário; ao leo; às claras; às ocultas; a sós; às pressas; assim; à toa; à vontade; bem; debalde; depressa; devagar; em silêncio; em vão; frente a frente; lado a lado; mal; melhor; pior; etc., e quase todos os terminados no sufixo -mente (calmamente, alegremente, etc.).
  
Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu.
 
(Alves Redol, G, 108.)
 
  
Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.)
+
Advérbios e locuções adverbiais de negação:
  
Alguém lhe bate nas costas.
+
: de forma alguma; de jeito nenhum; de maneira nenhuma; de modo algum; não; etc.  
(A. M. Machado, JT, 208.)
 
  
orações alternativas (ou / ora)
 
  
Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu.
+
Advérbios e locuções adverbiais de tempo:  
(Sttau Monteiro, AP], 39.)
 
  
Com uma locução verbal
+
: agora; ainda; amanhã; à noite; anteontem; antes; à tarde; às vezes; breve; cedo; de dia; de manhã; de noite; depois; de quando em quando; de repente; de súbito; de vez em quando; em breve; então; já; jamais; hoje; logo; nunca; ontem; outrora; pela manhã; raramente; sempre; tarde; etc. 
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====Com uma locução verbal====
  
 
Locuções verbais com verbo principal no INFINITIVO ou no GERÚNDIO permitem:  
 
Locuções verbais com verbo principal no INFINITIVO ou no GERÚNDIO permitem:  
  
1. SEMPRE a ÊNCLISE
+
1. SEMPRE a ÊNCLISE
 +
 
 +
: O roupeiro veio interromper-me.
 +
: Ia desenrolando-se a paisagem.
 +
 
  
O roupeiro veio interromper-me.
+
2. A PRÓCLISE ao verbo auxiliar ocorre quando há elemento que a justifique, a saber:
(R. Pompéia, A, 37.)
 
  
Ia desenrolando-se a paisagem.
+
a) Palavra negativa
(R. Correia, PCP, 304.)
 
  
2. A PRÓCLISE ao verbo auxiliar ocorre quando há elemento que a justifique, a saber:
+
: Ninguém o havia de dizer.
 +
: Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo também.
  
Palavra negativa
 
  
— Ninguém o havia de dizer.
+
b) Pronomes ou advérbios interrogativos
(A. Ribeiro, M, 68.)
 
  
Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo
+
: Que é que me podia acontecer?
também.
 
(Machado de Assis, OC, I, 1051.)
 
  
  
Pronomes ou advérbios interrogativos
+
c) Orações iniciadas por palavras exclamativas ou orações que exprimem desejo (optativas)
  
Que é que me podia acontecer?
+
: Deus nos há de proteger!
(G. Ramos, A, 152.)
 
  
Orações iniciadas por palavras exclamativas ou orações que exprimem desejo (optativas)
 
  
Deus nos há de proteger!
+
d) Orações subordinadas desenvolvidas, inclusive com conjunção oculta
  
Orações subordinadas desenvolvidas, inclusive com conjunção oculta
+
: O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração.
 +
: Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o banho.
  
O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração.
 
(E. da Cunha, OC, II, 634.)
 
  
Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o
+
3. A ÊNCLISE ao verbo auxiliar é possível quando não há elemento atrativo de PRÓCLISE:
banho.
 
(Eça de Queirós, O, II, 329.)
 
  
3. A ÊNCLISE ao verbo auxiliar é possível quando não há elemento atrativo de PRÓCLISE:
+
: Ia-me esquecendo dela.
  
Ia-me esquecendo dela.
 
(G. Ramos, AOH, 40.)
 
  
 
 
Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar.   
 
Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar.   
  
Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste?
+
: Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste?
(M. J. de Carvalho, TM, 152.)
+
: Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado.
Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado.
 
(Machado de Assis, OC, I, 645.)
 
  
 
Dessa forma, existem três posições possíveis para o pronome em locuções verbais: próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar (com hífen) e ênclise ao principal (com hífen). Embora a próclise ao verbo principal seja o mais corrente na língua falada no Brasil, a referida construção não é corroborada pela norma culta.
 
Dessa forma, existem três posições possíveis para o pronome em locuções verbais: próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar (com hífen) e ênclise ao principal (com hífen). Embora a próclise ao verbo principal seja o mais corrente na língua falada no Brasil, a referida construção não é corroborada pela norma culta.
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: Exemplos de locuções verbais:
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: “O aluno se deve aplicar” (hipótese de próclise correta),
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: “O aluno deve-se aplicar” (hipótese de ênclise no verbo auxiliar correta),
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: “O aluno deve aplicar-se” (hipótese de ênclise no verbo principal correta),
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: Hipótese errada: “o aluno deve se aplicar” (hipótese de próclise no verbo principal errada)
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: Exemplos adaptados do livro ''Português instrumental'', de Dileta Silveira Martins e Lúbia Scliar Zilberknop.
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: Regra: no registro formal, não se deve jamais iniciar uma oração com um pronome oblíquo átono (me, te, se, o, a, lhe, os, as, lhes, nos e vos).
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: Exemplos: “Falei-lhe sobre o tema”, “Mostrou-me o livro”, “Desculpe-me o atrevimento”, “Fi-lo porque o quis”.

Edição atual tal como às 10h26min de 5 de junho de 2020

(Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001; ALMEIDA, Nílson Teixeira de. Gramática Completa para Concursos e Vestibulares. 2ª edição, São Paulo: Saraiva, 2009; https://www.normaculta.com.br/locucao-adverbial/)


Tipos de colocação pronominal



Em relação ao verbo, o pronome átono pode estar:


a) ENCLÍTICO (isto é, depois dele; essa é a regra em língua portuguesa): “Calei-me”

Sendo o pronome átono objeto direto ou indireto do verbo, a sua posição lógica, normal, é a ênclise.

b) PROCLÍTICO (isto é, antes dele): “Eu me calei"

c) MESOCLÍTICO (ou seja, no meio dele, colocação que só é possível com formas do futuro do presente ou do futuro do pretérito): “Calar-me-ei” “Calar-me-ia”


Fatores que flexibilizam a regra de ênclise



Com um só verbo

1. Quando o verbo está no FUTURO DO PRESENTE ou no FUTURO DO PRETÉRITO: somente PRÓCLISE ou MESÓCLISE do pronome.

[Nestes dois casos, o pronome pessoal reto obriga a próclise]

Eu me calarei.
Eu me calaria.


Calar-me-ei.
Calar-me-ia.


2. Fator que obriga a PRÓCLISE, a saber:

a) Orações que contêm palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc.) sem pausa entre a referida palavra e o verbo:

Não lhes dizia eu?
Nunca o vi tão sereno e obstinado.


b) Orações iniciadas com pronomes ou advérbios interrogativos:

Quem me busca a esta hora tardia?
Por que te assustas de cada vez?


c) Orações exclamativas ou que exprimem desejo:

Que o vento te leve os meus recados de saudade.
Que Deus o abençoe!


d) Orações subordinadas desenvolvidas, ainda que a conjunção esteja oculta:

Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço.
Que é que desejas te mande do Rio?


e) Gerúndio regido da preposição “em”:

Em lhe cheirando a homem chulo é com ele.


3. Não há ênclise ou próclise com PARTICÍPIOS. Quando o PARTICÍPIO vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição.

Dada a mim a explicação, saiu.


4. Com os infinitivos, PRÓCLISE e ÊNCLISE são válidas, embora haja tendência para esta colocação pronominal.

Canta-me cantigas para me embalar!
Para não fitá-lo, deixei cair os olhos.


A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a”

Se soubesse, não continuaria a lê-lo.
Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la.


5. A PRÓCLISE pronominal pode ser também utilizada nos seguintes casos:

a) Advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez) ou expressões ou locuções adverbiais sem pausa que os separe.

Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma.
Só depois se senta no chão a chorar.


b) Orações em ordem inversa iniciada por objeto direto ou predicativo.

Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu.


c) Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.)

Alguém lhe bate nas costas.


d) Orações alternativas (ou / ora)

Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu.


ADVÉRBIOS E LOCUÇÕES ADVERBIAIS:

Com relação aos advérbios e locuções adverbiais (item 5, alínea "a", acima), cumpre ressaltar que só se requer a próclise quendo não há pausa (vírgula, por exemplo) que os separe do verbo pronominal. Em geral, utiliza-se uma pausa após o advérbio ou a locução adverbial, caso em que se requer a ênclise. Por exemplo: : "Desde cedo, notabilizou-se por sua grande inteligência", mas “Desde cedo se notabilizou por sua grande inteligência”.

Segundo distintas gramáticas, os advérbios e locuções adverbiais podem ser classificados como de afirmação, de dúvida, de intensidade, de lugar, de modo, de negação e de tempo. Seguem alguns exemplos:


Advérbios e locuções adverbiais de afirmação:

com certeza; com efeito; certamente; de fato; efetivamente; na verdade; por certo; realmente; sem dúvida, sim; etc.


Advérbios e locuções adverbiais de dúvida:

acaso; com certeza; porventura; possivelmente; provavelmente; quem sabe; quiçá; talvez, etc.


Advérbios e locuções adverbiais de intensidade:

apenas; assaz; bastante; bem; demais; demasiadamente; de muito; de pouco; de todo; em demasia; em excesso; mais; meio; menos; muito; pouco; quanto; quase; só; somente; tão; tão somente; todo; etc.


Advérbios e locuções adverbiais de lugar:

abaixo; acima; acolá; adiante; à direita; à esquerda; à frente; aí; além; ali; ao lado; aqui; aquém; atrás; através; de fora; de longe; dentro; de perto; em cima; em volta; fora; longe; para onde; perto; por ali; por aqui; por dentro; por fora; por perto; etc.


Advérbios e locuções adverbiais de modo:

ao acaso; ao contrário; ao leo; às claras; às ocultas; a sós; às pressas; assim; à toa; à vontade; bem; debalde; depressa; devagar; em silêncio; em vão; frente a frente; lado a lado; mal; melhor; pior; etc., e quase todos os terminados no sufixo -mente (calmamente, alegremente, etc.).


Advérbios e locuções adverbiais de negação:

de forma alguma; de jeito nenhum; de maneira nenhuma; de modo algum; não; etc.


Advérbios e locuções adverbiais de tempo:

agora; ainda; amanhã; à noite; anteontem; antes; à tarde; às vezes; breve; cedo; de dia; de manhã; de noite; depois; de quando em quando; de repente; de súbito; de vez em quando; em breve; então; já; jamais; hoje; logo; nunca; ontem; outrora; pela manhã; raramente; sempre; tarde; etc.


Com uma locução verbal

Locuções verbais com verbo principal no INFINITIVO ou no GERÚNDIO permitem:

1. SEMPRE a ÊNCLISE

O roupeiro veio interromper-me.
Ia desenrolando-se a paisagem.


2. A PRÓCLISE ao verbo auxiliar ocorre quando há elemento que a justifique, a saber:

a) Palavra negativa

Ninguém o havia de dizer.
Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo também.


b) Pronomes ou advérbios interrogativos

Que é que me podia acontecer?


c) Orações iniciadas por palavras exclamativas ou orações que exprimem desejo (optativas)

Deus nos há de proteger!


d) Orações subordinadas desenvolvidas, inclusive com conjunção oculta

O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração.
Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o banho.


3. A ÊNCLISE ao verbo auxiliar é possível quando não há elemento atrativo de PRÓCLISE:

Ia-me esquecendo dela.


Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar.

Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste?
Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado.

Dessa forma, existem três posições possíveis para o pronome em locuções verbais: próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar (com hífen) e ênclise ao principal (com hífen). Embora a próclise ao verbo principal seja o mais corrente na língua falada no Brasil, a referida construção não é corroborada pela norma culta.


Exemplos de locuções verbais:
“O aluno se deve aplicar” (hipótese de próclise correta),
“O aluno deve-se aplicar” (hipótese de ênclise no verbo auxiliar correta),
“O aluno deve aplicar-se” (hipótese de ênclise no verbo principal correta),
Hipótese errada: “o aluno deve se aplicar” (hipótese de próclise no verbo principal errada)
Exemplos adaptados do livro Português instrumental, de Dileta Silveira Martins e Lúbia Scliar Zilberknop.


Regra: no registro formal, não se deve jamais iniciar uma oração com um pronome oblíquo átono (me, te, se, o, a, lhe, os, as, lhes, nos e vos).
Exemplos: “Falei-lhe sobre o tema”, “Mostrou-me o livro”, “Desculpe-me o atrevimento”, “Fi-lo porque o quis”.