Colocação pronominal: mudanças entre as edições

De Manual de Revisão da FUNAG
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Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.  
(Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)
   
   


Linha 40: Linha 40:


: Não lhes dizia eu?
: Não lhes dizia eu?
: (M. de Sá-Carneiro, CF, 348.)
: Nunca o vi tão sereno e obstinado.
: Nunca o vi tão sereno e obstinado.
: (C. dos Anjos, M, 316.)




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: Quem me busca a esta hora tardia?
: Quem me busca a esta hora tardia?
: (M. Bandeira, PP, I, 406.)
: Por que te assustas de cada vez?
: Por que te assustas de cada vez?
: (J. Régio, JA, 98.)




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: Que o vento te leve os meus recados de saudade.
: Que o vento te leve os meus recados de saudade.
: (F. Namora, RT, 89.)
: Que Deus o abençoe!
: Que Deus o abençoe!
: (B. Santareno, TPM, 18.)




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: Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço.
: Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço.
: (C. Drummond de Andrade, BV, 20.)
: Que é que desejas te mande do Rio?
: Que é que desejas te mande do Rio?
: (A. Peixoto, RC, 174.)




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: Em lhe cheirando a homem chulo é com ele.
: Em lhe cheirando a homem chulo é com ele.
: (Machado de Assis, OC, I, 755.)




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: Canta-me cantigas para me embalar!
: Canta-me cantigas para me embalar!
: (Guerra Junqueiro, S, 118.)
: Para não fitá-lo, deixei cair os olhos.


: Para não fitá-lo, deixei cair os olhos.
: (Machado de Assis, OC, I, 807.)


A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a”  
A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a”  


: Se soubesse, não continuaria a lê-lo.
: Se soubesse, não continuaria a lê-lo.
: (R. Barbosa, EDS, 743.)
: Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la.
: Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la.
: (B. Santareno, TPM, 120.)




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: Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma.
: Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma.
: (Machado de Assis, OC, I, 858.)
: Só depois se senta no chão a chorar.
: Só depois se senta no chão a chorar.
: (Alves Redol, MB, 255.)




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: Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu.
: Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu.
: (Alves Redol, G, 108.)


c) Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.)  
c) Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.)  


: Alguém lhe bate nas costas.
: Alguém lhe bate nas costas.
: (A. M. Machado, JT, 208.)




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: Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu.
: Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu.
: (Sttau Monteiro, AP, 39.)




Linha 137: Linha 112:


: O roupeiro veio interromper-me.
: O roupeiro veio interromper-me.
: (R. Pompéia, A, 37.)
: Ia desenrolando-se a paisagem.
: Ia desenrolando-se a paisagem.
: (R. Correia, PCP, 304.)




Linha 148: Linha 120:


: Ninguém o havia de dizer.
: Ninguém o havia de dizer.
: (A. Ribeiro, M, 68.)
: Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo também.
: Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo também.
: (Machado de Assis, OC, I, 1051.)




Linha 157: Linha 126:


: Que é que me podia acontecer?
: Que é que me podia acontecer?
: (G. Ramos, A, 152.)




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: O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração.
: O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração.
: (E. da Cunha, OC, II, 634.)
: Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o banho.
: Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o banho.
: (Eça de Queirós, O, II, 329.)




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: Ia-me esquecendo dela.
: Ia-me esquecendo dela.


: (G. Ramos, AOH, 40.)


Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar.   
Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar.   


: Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste?
: Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste?
:(M. J. de Carvalho, TM, 152.)
: Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado.
: Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado.
: (Machado de Assis, OC, I, 645.)


Dessa forma, existem três posições possíveis para o pronome em locuções verbais: próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar (com hífen) e ênclise ao principal (com hífen). Embora a próclise ao verbo principal seja o mais corrente na língua falada no Brasil, a referida construção não é corroborada pela norma culta.
Dessa forma, existem três posições possíveis para o pronome em locuções verbais: próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar (com hífen) e ênclise ao principal (com hífen). Embora a próclise ao verbo principal seja o mais corrente na língua falada no Brasil, a referida construção não é corroborada pela norma culta.

Edição das 22h33min de 7 de abril de 2020

(Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)


Em relação ao verbo, o pronome átono pode estar:



a) ENCLÍTICO (isto é, depois dele; essa é a regra em língua portuguesa): “Calei-me”

Sendo o pronome átono objeto direto ou indireto do verbo, a sua posição lógica, normal, é a ênclise.

b) PROCLÍTICO (isto é, antes dele): “Eu me calei"

c) MESOCLÍTICO (ou seja, no meio dele, colocação que só é possível com formas do futuro do presente ou do futuro do pretérito): “Calar-me-ei” “Calar-me-ia”


Fatores que flexibilizam a regra de ênclise:



Com um só verbo

1. Quando o verbo está no FUTURO DO PRESENTE ou no FUTURO DO PRETÉRITO: somente PRÓCLISE ou MESÓCLISE do pronome:

Eu me calarei.
Eu me calaria [Neste dois casos, o pronome pessoal reto obriga a próclise].
Calar-me-ei.
Calar-me-ia.


2. Fator que obriga a PRÓCLISE, a saber:

a) Orações que contêm palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc.) sem pausa entre a referida palavra e o verbo:

Não lhes dizia eu?
Nunca o vi tão sereno e obstinado.


b) Orações iniciadas com pronomes ou advérbios interrogativos:

Quem me busca a esta hora tardia?
Por que te assustas de cada vez?


c) Orações exclamativas ou que exprimem desejo:

Que o vento te leve os meus recados de saudade.
Que Deus o abençoe!


d) Orações subordinadas desenvolvidas, ainda que a conjunção esteja oculta:

Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço.
Que é que desejas te mande do Rio?


e) Gerúndio regido da preposição “em”:

Em lhe cheirando a homem chulo é com ele.


3. Não há ênclise ou próclise com PARTICÍPIOS. Quando o PARTICÍPIO vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição.

Dada a mim a explicação, saiu.


4. Com os infinitivos, PRÓCLISE e ÊNCLISE são válidas, embora haja tendência para esta colocação pronominal.

Canta-me cantigas para me embalar!
Para não fitá-lo, deixei cair os olhos.


A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a”

Se soubesse, não continuaria a lê-lo.
Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la.


5. Celso Cunha ainda identifica uma tendência à PRÓCLISE pronominal nos seguintes casos:

a) Advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez) ou expressões adverbiais sem pausa que os separe.

Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma.
Só depois se senta no chão a chorar.


b) Orações em ordem inversa iniciada por objeto direto ou predicativo.

Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu.

c) Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.)

Alguém lhe bate nas costas.


d) orações alternativas (ou / ora)

Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu.


Com uma locução verbal

Locuções verbais com verbo principal no INFINITIVO ou no GERÚNDIO permitem:

1. SEMPRE a ÊNCLISE

O roupeiro veio interromper-me.
Ia desenrolando-se a paisagem.


2. A PRÓCLISE ao verbo auxiliar ocorre quando há elemento que a justifique, a saber:

a) Palavra negativa

Ninguém o havia de dizer.
Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo também.


b) Pronomes ou advérbios interrogativos

Que é que me podia acontecer?


c) Orações iniciadas por palavras exclamativas ou orações que exprimem desejo (optativas)

Deus nos há de proteger!


d) Orações subordinadas desenvolvidas, inclusive com conjunção oculta

O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração.
Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o banho.


3. A ÊNCLISE ao verbo auxiliar é possível quando não há elemento atrativo de PRÓCLISE:

Ia-me esquecendo dela.


Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar.

Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste?
Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado.

Dessa forma, existem três posições possíveis para o pronome em locuções verbais: próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar (com hífen) e ênclise ao principal (com hífen). Embora a próclise ao verbo principal seja o mais corrente na língua falada no Brasil, a referida construção não é corroborada pela norma culta.