Mudanças entre as edições de "Colocação pronominal"
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1. Quando o verbo está no FUTURO DO PRESENTE ou no FUTURO DO PRETÉRITO: somente PRÓCLISE ou MESÓCLISE do pronome: | 1. Quando o verbo está no FUTURO DO PRESENTE ou no FUTURO DO PRETÉRITO: somente PRÓCLISE ou MESÓCLISE do pronome: | ||
− | Eu me calarei. | + | : Eu me calarei. |
− | Eu me calaria [Neste dois casos, o pronome pessoal reto obriga a próclise]. | + | : Eu me calaria [Neste dois casos, o pronome pessoal reto obriga a próclise]. |
− | Calar-me-ei. | + | : Calar-me-ei. |
− | Calar-me-ia. | + | : Calar-me-ia. |
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a) Orações que contêm palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc.) sem pausa entre a referida palavra e o verbo: | a) Orações que contêm palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc.) sem pausa entre a referida palavra e o verbo: | ||
− | + | : Não lhes dizia eu? | |
− | (M. de Sá-Carneiro, CF, 348.) | + | : (M. de Sá-Carneiro, CF, 348.) |
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+ | : Nunca o vi tão sereno e obstinado. | ||
+ | : (C. dos Anjos, M, 316.) | ||
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b) Orações iniciadas com pronomes ou advérbios interrogativos: | b) Orações iniciadas com pronomes ou advérbios interrogativos: | ||
− | Quem me busca a esta hora tardia? | + | : Quem me busca a esta hora tardia? |
− | (M. Bandeira, PP, I, 406.) | + | : (M. Bandeira, PP, I, 406.) |
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+ | : Por que te assustas de cada vez? | ||
+ | : (J. Régio, JA, 98.) | ||
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c) Orações exclamativas ou que exprimem desejo: | c) Orações exclamativas ou que exprimem desejo: | ||
− | Que o vento te leve os meus recados de saudade. | + | : Que o vento te leve os meus recados de saudade. |
− | (F. Namora, RT, 89.) | + | : (F. Namora, RT, 89.) |
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+ | : Que Deus o abençoe! | ||
+ | : (B. Santareno, TPM, 18.) | ||
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d) Orações subordinadas desenvolvidas, ainda que a conjunção esteja oculta: | d) Orações subordinadas desenvolvidas, ainda que a conjunção esteja oculta: | ||
− | Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço. | + | : Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço. |
− | (C. Drummond de Andrade, BV, 20.) | + | : (C. Drummond de Andrade, BV, 20.) |
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+ | : Que é que desejas te mande do Rio? | ||
+ | : (A. Peixoto, RC, 174.) | ||
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e) Gerúndio regido da preposição “em”: | e) Gerúndio regido da preposição “em”: | ||
− | + | : Em lhe cheirando a homem chulo é com ele. | |
− | (Machado de Assis, OC, I, 755.) | + | : (Machado de Assis, OC, I, 755.) |
3. Não há ênclise ou próclise com PARTICÍPIOS. Quando o PARTICÍPIO vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição. | 3. Não há ênclise ou próclise com PARTICÍPIOS. Quando o PARTICÍPIO vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição. | ||
− | + | : Dada a mim a explicação, saiu. | |
4. Com os infinitivos, PRÓCLISE e ÊNCLISE são válidas, embora haja tendência para esta colocação pronominal. | 4. Com os infinitivos, PRÓCLISE e ÊNCLISE são válidas, embora haja tendência para esta colocação pronominal. | ||
− | Canta-me cantigas para me embalar! | + | : Canta-me cantigas para me embalar! |
− | (Guerra Junqueiro, S, 118.) | + | : (Guerra Junqueiro, S, 118.) |
− | Para não fitá-lo, deixei cair os olhos. | + | : Para não fitá-lo, deixei cair os olhos. |
− | (Machado de Assis, OC, I, 807.) | + | : (Machado de Assis, OC, I, 807.) |
A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a” | A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a” | ||
− | Se soubesse, não continuaria a lê-lo. | + | : Se soubesse, não continuaria a lê-lo. |
− | (R. Barbosa, EDS, 743.) | + | : (R. Barbosa, EDS, 743.) |
− | Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la. | + | : Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la. |
− | (B. Santareno, TPM, 120.) | + | : (B. Santareno, TPM, 120.) |
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a) Advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez) ou expressões adverbiais sem pausa que os separe. | a) Advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez) ou expressões adverbiais sem pausa que os separe. | ||
− | Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma. | + | : Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma. |
− | (Machado de Assis, OC, I, 858.) | + | : (Machado de Assis, OC, I, 858.) |
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+ | : Só depois se senta no chão a chorar. | ||
+ | : (Alves Redol, MB, 255.) | ||
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b) Orações em ordem inversa iniciada por objeto direto ou predicativo. | b) Orações em ordem inversa iniciada por objeto direto ou predicativo. | ||
− | Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu. | + | : Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu. |
− | (Alves Redol, G, 108.) | + | : (Alves Redol, G, 108.) |
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c) Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.) | c) Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.) | ||
− | Alguém lhe bate nas costas. | + | : Alguém lhe bate nas costas. |
− | (A. M. Machado, JT, 208.) | + | : (A. M. Machado, JT, 208.) |
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d) orações alternativas (ou / ora) | d) orações alternativas (ou / ora) | ||
− | Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu. | + | : Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu. |
− | (Sttau Monteiro, AP, 39.) | + | : (Sttau Monteiro, AP, 39.) |
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1. SEMPRE a ÊNCLISE | 1. SEMPRE a ÊNCLISE | ||
− | O roupeiro veio interromper-me. | + | : O roupeiro veio interromper-me. |
− | (R. Pompéia, A, 37.) | + | : (R. Pompéia, A, 37.) |
− | Ia desenrolando-se a paisagem. | + | : Ia desenrolando-se a paisagem. |
− | (R. Correia, PCP, 304.) | + | : (R. Correia, PCP, 304.) |
− | 2. A PRÓCLISE ao verbo auxiliar ocorre quando há elemento que a justifique, a saber: | + | 2. A PRÓCLISE ao verbo auxiliar ocorre quando há elemento que a justifique, a saber: |
a) Palavra negativa | a) Palavra negativa | ||
− | Ninguém o havia de dizer. | + | : Ninguém o havia de dizer. |
− | (A. Ribeiro, M, 68.) | + | : (A. Ribeiro, M, 68.) |
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+ | : Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo também. | ||
+ | : (Machado de Assis, OC, I, 1051.) | ||
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b) Pronomes ou advérbios interrogativos | b) Pronomes ou advérbios interrogativos | ||
− | Que é que me podia acontecer? | + | : Que é que me podia acontecer? |
− | (G. Ramos, A, 152.) | + | : (G. Ramos, A, 152.) |
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c) Orações iniciadas por palavras exclamativas ou orações que exprimem desejo (optativas) | c) Orações iniciadas por palavras exclamativas ou orações que exprimem desejo (optativas) | ||
− | Deus nos há de proteger! | + | : Deus nos há de proteger! |
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d) Orações subordinadas desenvolvidas, inclusive com conjunção oculta | d) Orações subordinadas desenvolvidas, inclusive com conjunção oculta | ||
− | O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração. | + | : O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração. |
− | (E. da Cunha, OC, II, 634.) | + | : (E. da Cunha, OC, II, 634.) |
− | Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o | + | : Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o banho. |
− | banho. | + | : (Eça de Queirós, O, II, 329.) |
− | (Eça de Queirós, O, II, 329.) | ||
3. A ÊNCLISE ao verbo auxiliar é possível quando não há elemento atrativo de PRÓCLISE: | 3. A ÊNCLISE ao verbo auxiliar é possível quando não há elemento atrativo de PRÓCLISE: | ||
− | Ia-me esquecendo dela. | + | : Ia-me esquecendo dela. |
− | (G. Ramos, AOH, 40.) | + | |
+ | : (G. Ramos, AOH, 40.) | ||
Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar. | Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar. |
Edição das 15h27min de 30 de março de 2020
Fonte: CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Em relação ao verbo, o pronome átono pode estar:
a) ENCLÍTICO (isto é, depois dele; essa é a regra em língua portuguesa):
“Calei-me”
Sendo o pronome átono objeto direto ou indireto do verbo, a sua posição lógica, normal, é a ênclise.
b) PROCLÍTICO (isto é, antes dele): “Eu me calei"
c) MESOCLÍTICO (ou seja, no meio dele, colocação que só é possível com formas do futuro do presente ou do futuro do pretérito): “Calar-me-ei” “Calar-me-ia”
Fatores que flexibilizam a regra de ênclise:
Com um só verbo
1. Quando o verbo está no FUTURO DO PRESENTE ou no FUTURO DO PRETÉRITO: somente PRÓCLISE ou MESÓCLISE do pronome:
- Eu me calarei.
- Eu me calaria [Neste dois casos, o pronome pessoal reto obriga a próclise].
- Calar-me-ei.
- Calar-me-ia.
2. Fator que obriga a PRÓCLISE, a saber:
a) Orações que contêm palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc.) sem pausa entre a referida palavra e o verbo:
- Não lhes dizia eu?
- (M. de Sá-Carneiro, CF, 348.)
- Nunca o vi tão sereno e obstinado.
- (C. dos Anjos, M, 316.)
b) Orações iniciadas com pronomes ou advérbios interrogativos:
- Quem me busca a esta hora tardia?
- (M. Bandeira, PP, I, 406.)
- Por que te assustas de cada vez?
- (J. Régio, JA, 98.)
c) Orações exclamativas ou que exprimem desejo:
- Que o vento te leve os meus recados de saudade.
- (F. Namora, RT, 89.)
- Que Deus o abençoe!
- (B. Santareno, TPM, 18.)
d) Orações subordinadas desenvolvidas, ainda que a conjunção esteja oculta:
- Quando me deitei, à meia-noite, os preços estavam à altura do pescoço.
- (C. Drummond de Andrade, BV, 20.)
- Que é que desejas te mande do Rio?
- (A. Peixoto, RC, 174.)
e) Gerúndio regido da preposição “em”:
- Em lhe cheirando a homem chulo é com ele.
- (Machado de Assis, OC, I, 755.)
3. Não há ênclise ou próclise com PARTICÍPIOS. Quando o PARTICÍPIO vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição.
- Dada a mim a explicação, saiu.
4. Com os infinitivos, PRÓCLISE e ÊNCLISE são válidas, embora haja tendência para esta colocação pronominal.
- Canta-me cantigas para me embalar!
- (Guerra Junqueiro, S, 118.)
- Para não fitá-lo, deixei cair os olhos.
- (Machado de Assis, OC, I, 807.)
A ênclise é ainda mais empregada quando o pronome tem a forma “o” (principalmente no feminino “a”) e o infinitivo vem regido pela preposição “a”
- Se soubesse, não continuaria a lê-lo.
- (R. Barbosa, EDS, 743.)
- Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la.
- (B. Santareno, TPM, 120.)
5. Celso Cunha ainda identifica uma tendência à PRÓCLISE pronominal nos seguintes casos:
a) Advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez) ou expressões adverbiais sem pausa que os separe.
- Até a voz, dentro em pouco, já me parecia a mesma.
- (Machado de Assis, OC, I, 858.)
- Só depois se senta no chão a chorar.
- (Alves Redol, MB, 255.)
b) Orações em ordem inversa iniciada por objeto direto ou predicativo.
- Tiram mais que na ceifa; isso te digo eu.
- (Alves Redol, G, 108.)
c) Sujeito anteposto ao verbo com o numeral “ambos” ou pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc.)
- Alguém lhe bate nas costas.
- (A. M. Machado, JT, 208.)
d) orações alternativas (ou / ora)
- Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu.
- (Sttau Monteiro, AP, 39.)
Com uma locução verbal
Locuções verbais com verbo principal no INFINITIVO ou no GERÚNDIO permitem:
1. SEMPRE a ÊNCLISE
- O roupeiro veio interromper-me.
- (R. Pompéia, A, 37.)
- Ia desenrolando-se a paisagem.
- (R. Correia, PCP, 304.)
2. A PRÓCLISE ao verbo auxiliar ocorre quando há elemento que a justifique, a saber:
a) Palavra negativa
- Ninguém o havia de dizer.
- (A. Ribeiro, M, 68.)
- Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo também.
- (Machado de Assis, OC, I, 1051.)
b) Pronomes ou advérbios interrogativos
- Que é que me podia acontecer?
- (G. Ramos, A, 152.)
c) Orações iniciadas por palavras exclamativas ou orações que exprimem desejo (optativas)
- Deus nos há de proteger!
d) Orações subordinadas desenvolvidas, inclusive com conjunção oculta
- O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração.
- (E. da Cunha, OC, II, 634.)
- Ega subiu ao seu quarto, onde outro criado lhe estava preparando o banho.
- (Eça de Queirós, O, II, 329.)
3. A ÊNCLISE ao verbo auxiliar é possível quando não há elemento atrativo de PRÓCLISE:
- Ia-me esquecendo dela.
- (G. Ramos, AOH, 40.)
Quando o verbo principal está no PARTICÍPIO, o pronome átono não pode ser enclítico a ele, portanto, o pronome deverá ser PROCLÍTICO ou ENCLÍTICO ao verbo auxiliar.
- Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste?
- (M. J. de Carvalho, TM, 152.)
- Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado.
- (Machado de Assis, OC, I, 645.)
Dessa forma, existem três posições possíveis para o pronome em locuções verbais: próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar (com hífen) e ênclise ao principal (com hífen). Embora a próclise ao verbo principal seja o mais corrente na língua falada no Brasil, a referida construção não é corroborada pela norma culta.